A energia solar já representa 22,5% da matriz elétrica brasileira, consolidando-se como a segunda principal fonte do país, atrás apenas da hídrica, que lidera com 44,3%, segundo dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica).
No campo, o agronegócio vem adotando sistemas fotovoltaicos não apenas para reduzir as emissões de carbono ao diminuir a dependência do diesel no uso de geradores de energia, e na busca por maior eficiência energética com soluções híbridas.
O meio rural já responde por 14,5% da potência instalada em geração distribuída no país, atrás dos setores residencial (49,5%) e comercial (28,5%).
Enquanto a tecnologia avança, o Brasil precisa amadurecer sua base regulatória. Para que a transição energética seja sólida e sustentável, o país precisa de um planejamento robusto, capaz de integrar geração, demanda e logística energética. O desafio vai além de instalar painéis solares: é preciso conectar os pontos.
Em 2024, o Brasil alcançou a 4ª posição entre os maiores mercados globais de energia e a 5ª colocação na produção de energia solar, conforme relatório da SolarPower Europe.
Para manter esse protagonismo, o país precisa enfrentar entraves regulatórios, especialmente no que diz respeito ao “curtailment” – a limitação da geração por falta de capacidade de escoamento.
Essa situação exige melhorias significativas na infraestrutura de transmissão, que hoje impede que a energia limpa gerada, especialmente no Nordeste, chegue de forma eficiente aos grandes centros consumidores do Sudeste.
A construção de um sistema energético mais estável a por um planejamento que envolva tanto a geração como a demanda. Questões estratégicas, como o crescimento de data centers e a produção de hidrogênio verde no Nordeste, precisam estar no radar com uma abordagem estruturada para resolver a falta de demanda pontual.
Sem isso, o Brasil pode perder espaço para outros países na disputa por investimentos internacionais em energias renováveis.
Além da necessidade de equilíbrio entre oferta e demanda, a transmissão de energia é também um dos principais gargalos. A concentração da produção no Nordeste contrasta com a alta demanda do Sudeste, evidenciando a urgência de novos investimentos em redes interligadas.
Essa necessidade de investimentos em redes interconectadas não afeta apenas o SEB (Sistema Elétrico Brasileiro). Tendo em vista as metas climáticas, a IEA (Agência Internacional de Energia) estima que a nível global serão necessários US$ 600 bilhões anuais em investimentos em redes de infraestrutura de transmissão nos próximos anos, o que inclui subestações e sistemas de controle que garantam o equilíbrio das cargas.
Apesar de possuir um setor regulado e relativamente sólido, o Brasil precisa avançar em autonomia e visão de longo prazo por parte dos órgãos responsáveis. É necessário um novo olhar sobre o papel dos agentes de distribuição e, possivelmente, uma reforma do sistema elétrico que traga mais competição ao setor.
Embora as fontes renováveis sejam competitivas, a intermitência continua sendo um desafio. Sistemas de armazenamento de energia são parte da resposta, mas não resolvem sozinhos a falta de demanda em determinados momentos. Isso reforça a importância de um planejamento mais preciso da produção e de políticas que incentivem o uso interno dessa energia limpa.
É nesse contexto que o conceito de powershoring ganha força: aproveitar a energia renovável como ativo estratégico para atrair cadeias produtivas em consonância com a Política de Reindustrialização do Brasil.
O Brasil, com sua matriz elétrica limpa, poderia se tornar um polo de produção industrial com uma forma de manufaturar mais eficiente do que as de outros países que têm matrizes energéticas dominadas por fontes mais poluentes, como China, Estados Unidos.
Atrair indústrias para cá não apenas fortalece a demanda energética como também contribui para o desenvolvimento econômico. A energia renovável é uma vantagem competitiva que o Brasil não pode desperdiçar.
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Uma resposta
O caminho é esse mesmo investir em redes de transmissão e distribuição em potência e inteligência. E também focar no hidrogênio verde. Investir em elaboração e revisão de Normas dos setores e ampliar seus conhecimentos nos devidos setores.