E agora, de quem é essa conta?

Competitividade no mercado de sistemas fotovoltaicos: impactos na qualidade e na segurança das instalações
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E agora, de quem é essa conta?
Foto: Freepik

Nos últimos anos, o mercado de sistemas fotovoltaicos no Brasil tem testemunhado um crescimento exponencial, impulsionado por incentivos governamentais, pela crescente conscientização sobre a importância das energias renováveis e principalmente pelo rápido retorno financeiro que esses sistemas proporcionam para seus investidores.

Contudo, com esse crescimento vem um desafio: o aumento da concorrência entre as empresas de instalação ou então os chamados integradores que, em alguns casos, pode comprometer a qualidade e a segurança nas instalações.

Concorrência acirrada: o preço como diferencial

Um dos fatores que contribuem para esse cenário é a busca desenfreada por preços baixos. Muitas empresas têm oferecido serviços a custos reduzidos para conquistar clientes, mas em alguns casos, isso pode significar cortes em aspectos essenciais.

Nas próximas linhas, vamos colocar em pauta os pontos mais importantes e que causam maior risco e impacto tanto na qualidade como na segurança.

Terceirização de vistoria técnica e projetos elétricos

Não existe problema algum em contratar uma empresa de projetos e análise técnica desde que o trabalho seja realmente executado por profissional devidamente capacitado e que as etapas de análise sejam efetivamente cumpridas.

Deve-se tomar cuidado redobrado com as famosas vistorias feitas por celular (online) ou por meio de fotos, para se trabalhar desta forma é preciso ter no mínimo uma pessoa com olhar técnico durante a visita para que não fique nenhum detalhe importante sem o devido registro.

Já quanto ao projeto eletromecânico, este deve ser feito de maneira exclusiva, pois é muito comum encontrar no mercado projetos com padrões pré-estabelecidos sem nenhuma verificação da particularidade da instalação, um típico “copia e cola” como se o projeto fosse um processo de despacho de papelada.

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Materiais de baixa qualidade, ou até mesmo não certificados

O mercado de energia fotovoltaica, diferentemente dos demais mercados de instalações elétricas, acabou adotanto de forma geral a composição de kits, o próprio governo subsidiou o setor com isenção ou redução de  algumas taxas para comercialização de kits pré-montados.

A grande questão é que os responsáveis técnicos nem sempre participam do recebimento desses kits na obra. Pensando nisso, é extremamente importante que os responsáveis realizem a verificação destes materiais antes da instalação, isso pode parecer óbvio, mas é bastante comum em obras, os materiais serem instalados sem a correta verificação.

Segundo pesquisas do anuário 2025 da Abracopel, 40% dos acidentes elétricos estão de alguma forma relacionados às conexões e instalações. Portanto o Integrador deve sempre estar atento quanto a qualidade dos materiais, principalmente dos cabos e conectores que serão  utilizados em campo, e sempre exigir materiais certificados.

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Elementos de proteção e manobra

Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), O Brasil é um dos países de maior ocorrência de relâmpagos no mundo por ter grande extensão territorial e estar próximo do equador geográfico.

Estima-se, com base em dados de redes de monitoramento, que cerca de 78 milhões de relâmpagos atinjam o solo brasileiro por ano, portanto não é difícil entender que elementos de proteção contra surtos (DPS) ou Caixas de Junção e Manobra (stringbox ) são fundamentais para o contínuo funcionamento do sistema. Além de representarem menos de 3% do valor final da instalação, elas garantem o funcionamento ininterrupto do sistema.

A norma técnica NBR 16690 que regula as instalações elétricas de arranjos fotovoltaicos no Brasil  destaca a importância desses elementos de proteção. Muitos fabricantes alegam que os geradores/inversores já possuem proteção interna, mas é fato que em caso de atuação da proteção interna a garantia deverá ser acionada e o equipamento deverá ser retirado e enviado para manutenção junto ao fabricante causando a indisponibilidade da geração do sistema no cliente por período indeterminado.

Análise detalhada do telhado

A análise detalhada do telhado é um o essencial na instalação de sistemas fotovoltaicos, tanto para garantir a segurança quanto para assegurar o desempenho do sistema. Neste ano, já ocorreram dois casos de desabamento de telhado devido ao aumento de carga após a instalação de sistemas fotovoltaicos.

Este processo não pode em hipótese alguma ser experimental, o Integrador deve possuir o projeto do telhado com a abilidade de carga declarada, e caso não o tenha, deve obrigatoriamente contratar um calculista para fazer o estudo.

É lamentável que algumas empresas optem pelo não cumprimento das normas de segurança. Instalar carga em um telhado sem cálculo é o mesmo que dirigir numa estrada com um automóvel sem freio. Das vantagens da análise detalhada do telhado, podemos destacar:

  • Capacidade de carga: Os telhados precisam ar o peso adicional dos módulos fotovoltaicos, das estruturas de fixação e, em algumas regiões, de fatores como ventos fortes ou cargas de neve;
  • Prevenção de danos: Telhados que não são avaliados podem sofrer problemas como rachaduras, vazamentos ou até colapsos devido ao peso ou ao método de instalação inadequado;
  • Facilidade de manutenção: Durante a análise, deve-se considerar o o para futuras manutenções, tanto do sistema fotovoltaico quanto do telhado;
  • Posicionamento ideal: A inclinação, a orientação e as possíveis sombras sobre o telhado afetam diretamente a eficiência do sistema. Uma análise completa inclui a escolha do melhor layout para maximizar a captação de energia;
  • Prevenção de vibrações e movimentações: Ventos fortes podem causar deslocamentos ou vibrações que comprometam a eficiência do sistema;
  • Atendimento às regulamentações: No Brasil, normas como a NBR 16690 orientam sobre os requisitos de instalação de sistemas fotovoltaicos. A análise estrutural é fundamental para garantir que o projeto atenda a essas exigências.

Segurança contra incêndios

A segurança contra incêndios em sistemas fotovoltaicos é um tema fundamental que merece atenção especial durante o planejamento, instalação e manutenção desses sistemas. O risco de incêndios pode surgir a partir de diferentes fatores, sendo os arcos elétricos uma das causas mais comuns. Eles ocorrem devido a conexões elétricas mal feitas, cabos danificados ou falhas no inversor, e podem resultar em situações perigosas se não forem corrigidos a tempo.

Para evitar tais situações, é essencial implementar medidas preventivas adequadas. O uso de dispositivos de proteção, como disjuntores, fusíveis e DPS (Dispositivos de Proteção contra Surtos), é indispensável para proteger os componentes do sistema contra curtos-circuitos e sobretensões.

O aterramento adequado também desempenha um papel importante, garantindo que descargas elétricas sejam dissipadas de maneira segura no solo. Seguir rigorosamente normas técnicas, como a NBR 17193/2025 e a NBR 5419, é crucial para garantir que o sistema esteja em conformidade com padrões de segurança bem estabelecidos.

Sistemas com dispositivos de desligamento rápido (Rapid Shutdown) permitem isolar a energia do sistema em situações de perigo, facilitando intervenções de emergência. Consumidores e equipes de manutenção devem estar treinados para lidar com possíveis riscos e agir de forma eficaz em caso de necessidade.

Concluindo, os impactos de qualidade e segurança causados pela alta competitividade do mercado podem colocar em risco a saúde financeira da empresa. Nos anos de 2023 e 2024 acompanhamos o encerramento de atividades de diversas empresas do setor. Deve-se ficar muito atento para que não se tenha diferenças entre custos inicial e final de um projeto.

O e contínuo e a qualidade do pós-venda podem fazer total diferença na vida útil do sistema e na satisfação do cliente, proporcionando novos negócios. O ideal é que ao final deste processo, não exista nova conta para ninguém pagar!

As opiniões e informações expressas são de exclusiva responsabilidade do autor e não obrigatoriamente representam a posição oficial do Canal Solar.

Foto de Luis Magri
Luis Magri
Gerente da BU Solar da Proauto Electric. Engenheiro Eletricista com Especialização em Sistemas Fotovoltaicos, possui experiência de mais de 15 anos em Energias Renováveis, com forte atuação no segmento Solar desde 2013.

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