Diante do avanço das mudanças climáticas e da crescente escassez de recursos naturais, o desenvolvimento de soluções sustentáveis deixou de ser apenas uma alternativa e se tornou uma urgência. Embora a ação humana esteja no centro da crise ambiental, ela também representa a chave para diminuir seus efeitos, por meio da ciência, da inovação e do compromisso social.
Uma dessas respostas surge a partir de uma pesquisa acadêmica desenvolvida no Piauí, que comprova como a tecnologia pode melhorar concretamente a vida de comunidades vulneráveis, através da energia solar. Uma tese defendida no Programa de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFPI (Universidade Federal do Piauí) destaca o uso de sistemas de bombeamento de água movidos a energia solar como alternativa viável e sustentável em regiões do semiárido piauiense.
O trabalho, intitulado “Uso de sistemas de bombeamento fotovoltaico como tecnologia social em regiões semiáridas: Estudo em áreas rurais do Piauí”, é assinado por Fabrício Higo Monturil de Morais, professor do IFPI (Instituto Federal do Piauí). A pesquisa analisou comunidades rurais que enfrentam graves dificuldades de o à água e energia elétrica, agravadas por longos períodos de estiagem.
O estudo demonstrou que a instalação de sistemas de bombeamento solar contribuiu significativamente para a melhoria da qualidade de vida dessas populações, permitindo o cultivo de alimentos e a criação de animais mesmo fora da temporada de chuvas.
Como a energia solar pode auxiliar o produtor rural e o agronegócio?
“Durante o mestrado, conheci o projeto Canindé Solar e percebi o impacto real que esses equipamentos causavam nas comunidades. As famílias enxergavam o sistema como uma solução para a sobrevivência. Muitas não tinham sequer o básico, mas com a água extraída dos poços, aram a plantar e criar animais. No doutorado, quis aprofundar esse tema e entender se essas mudanças eram duradouras”, explicou o pesquisador.
Segundo Morais, os moradores recorreram a métodos s para conseguir água como os poços, cacimbões e sistemas manuais de extração e, mesmo quando existia rede elétrica, o fornecimento era precário. A adoção da energia solar presente na região, se mostrou uma solução eficiente e de baixo impacto ambiental.
A orientação da pesquisa ficou a cargo da professora Wilza Lopes, com coordenação do professor Marcos Antônio Tavares Lira, ambos da UFPI. Wilza destaca que o trabalho alinha duas frentes de sua linha de pesquisa: a energia fotovoltaica e o contexto do semiárido.
Para ela, é papel da universidade buscar respostas concretas para os desafios sociais por meio da pesquisa científica. “A população do semiárido de forma histórica tem enfrentado muitos problemas, provocados por frequentes períodos de estiagem e a energia se constitui um problema para alavancar o desenvolvimento das comunidades, especialmente as rurais”.
“Tenho certeza que o espaço acadêmico é capaz de dar respostas aos diversos problemas da sociedade, nas amplas áreas do conhecimento de forma sustentável. No entanto, para produzir conhecimento se torna necessário infraestrutura de laboratórios e pessoal, cujos custos variam nas diferentes áreas de conhecimento”, completou Wilza.
“A população do semiárido convive historicamente com a seca e com a exclusão energética. Esses fatores impedem o desenvolvimento das comunidades rurais. A universidade tem o potencial de produzir conhecimento que gera soluções sustentáveis. Mas, para isso, é essencial dispor de infraestrutura, laboratórios e profissionais qualificados”, defendeu a docente.
Morais também reforça que o espaço acadêmico deve atuar diretamente na transformação social. Para ele, projetos como esse exemplificam o papel estratégico da ciência na redução das desigualdades e na construção de um futuro mais justo. “A pesquisa precisa ir além da teoria. Quando ela se conecta com a realidade e propõe soluções, principalmente para as populações mais vulneráveis, ela cumpre sua função social. A união entre ciência e tecnologia pode promover mudanças reais e duradouras”, concluiu.
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