Após derrubar as temperaturas em boa parte da região Sul — com registros de neve em municípios gaúchos e catarinenses —, a maior frente fria do ano avançou com força por outras regiões do país.
Segundo o Climatempo, ao menos sete capitais brasileiras registraram recordes de frio na manhã desta sexta-feira (30), com destaque para Curitiba (PR), onde os termômetros marcaram 4,1 ºC.
Em São Paulo (SP), a mínima foi de 9,8 ºC, enquanto Porto Alegre (RS) e Campo Grande (MS) chegaram a 6,3 ºC. Florianópolis (SC) amanheceu com 8 ºC e até mesmo Cuiabá (MT), conhecida pelo calor intenso, registrou mínima de 13,7 ºC.
Com a queda brusca das temperaturas, volta à tona uma dúvida recorrente no setor fotovoltaico: o frio intenso pode prejudicar a geração dos painéis solares?
João Frederico Souza de Paula, pesquisador do LESF-MV (Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica – Marcelo Villalva) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que o frio, por si só, não atrapalha — e pode até beneficiar o desempenho dos painéis solares, desde que a irradiância solar se mantenha em níveis razoáveis.
“É inevitável que os módulos fotovoltaicos apresentem perdas de desempenho devido ao aumento da temperatura. Porém, durante períodos de frente fria, essas perdas podem ser atenuadas, podendo ficar melhor se a irradiância permanecer relativamente alta”, disse ele.
Segundo o profissional, o cenário ideal de geração ocorre quando se tem alta irradiância combinada com temperaturas mais amenas, uma condição climática que raramente acontece com perfeição.
Para ilustrar esse comportamento, o pesquisador compartilhou com a reportagem do Canal Solar um gráfico desenvolvido pelo LESF-MV. O estudo simula a eficiência da célula solar em diferentes temperaturas, com irradiância constante de 1.000 W/m².
A imagem abaixo mostra que, enquanto a eficiência do módulo em condições padrão (25 °C) é de 20,77%, essa performance aumenta para 22,43% a 0 °C. Já em temperaturas mais elevadas, como 70 °C, a eficiência cai para 17,73%.
“Dificilmente teremos a combinação perfeita de 1.000 W/m² de irradiância com temperatura de célula em 25 °C. Por isso, é mais realista ajustar as expectativas e considerar que, durante frentes frias, as perdas por temperatura serão menores, mas ainda estarão presentes”, comentou.
O que mais influencia o desempenho?
Além da temperatura e da irradiância, Frederico explica que o comportamento dos módulos fotovoltaicos também é impactado por fatores climáticos, como a velocidade do vento e a forma de instalação do sistema.
“Locais com pouca circulação de ar tendem a acumular mais calor nos módulos, o que pode comprometer o desempenho, mesmo em dias frios. Já ambientes bem ventilados ajudam a dissipar o calor mais rapidamente, mantendo as células em temperatura ideal de operação”, complementa.
Outro ponto relevante citado pelo pesquisador é o chamado coeficiente de temperatura de máxima potência de cada tecnologia. Esse índice, representado por uma constante negativa, indica o quanto a potência do módulo cai conforme a temperatura aumenta.
“Quanto menor for esse coeficiente, sem olhar para o sinal negativo, melhor o desempenho em climas mais quentes (acima de 25°C). Esse é um ponto importante a se observar ao comparar diferentes tecnologias disponíveis no mercado”, finalizou.
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