Microrredes surgem como solução estratégica para levar energia descentralizada

PC, VF e, VSG : os sistemas que moldam o futuro das microrredes
4 min 41 seg de leitura
Microrredes surgem como solução estratégica para levar energia descentralizada e superar desafios no Brasil
Foto: Freepik

“Não se faz uma microrrede sozinho. É preciso um estudo elétrico completo, integração de diferentes fontes e a colaboração de diversos profissionais”, afirmou Iberê Carneiro, engenheiro de Microrredes do Grupo Hexing.

No caminho da transição energética, uma tecnologia avança de forma silenciosa, porém decisiva. As microrredes, com capacidade para operar de forma autônoma ou conectadas à rede elétrica principal, têm se mostrado uma alternativa promissora para fornecer energia limpa, segura e descentralizada, especialmente em áreas remotas.

Durante o episódio #131 do Podcast Papo Solar, especialistas como Iberê Carneiro de Oliveira, engenheiro de Microrredes do Grupo Hexing, e Luiz Carlos Pereira da Silva, coordenador do Campus Sustentável da Unicamp, explicaram o funcionamento, os desafios, complexidades e as oportunidades que envolvem esse sistema.

Desafios e oportunidades de mercado

Com a promessa de tornar o sistema elétrico mais eficiente, resiliente e descentralizado, as microrredes têm ganhado espaço em debates sobre a transição energética no Brasil. Capazes de operar de forma autônoma ou conectadas à rede principal, essas estruturas representam uma alternativa estratégica para comunidades isoladas, indústrias e instituições públicas.

Para integradores e distribuidores, o campo está aberto para novas oportunidades, desde o fornecimento de equipamentos até o desenvolvimento de projetos completos para essas áreas. “É lógico que você tem muitos desafios. Quando você vai inventar, você vai imaginar o máximo de cenários possíveis, mas você pode ter um cenário que você não pode ter. Falhas também, porque é só ler, mas é para ter uma resposta melhor. Incluindo os sistemas de controle e monitoramento da decisão, garantindo um bom desempenho”, afirmou Luiz Carlos.

A complexidade da integração

A diversidade de fontes, no entanto, exige uma sofisticada estrutura de controle. Cada tipo de gerador, seja um solar, um aerogerador ou um gerador a diesel, possui comportamentos elétricos distintos. A chave da microrrede é o que os especialistas chamam de “formador de rede”, geralmente um equipamento chamado PCS (Power Conditioning System), responsável por definir os parâmetros de frequência e tensão do sistema.

“Têm os geradores que funcionam em modo só ilhado, mas também tem o gerador das funções da USCA, que quando você sincroniza, ele consegue ler a rede, que está fora do disjuntor dele e consegue sincronizar a ponto de ele conseguir injetar energia”, explicou Carneiro.

Além disso, a operação de uma microrrede exige estudos de aterramento, proteção, curto-circuito e comunicações robustas entre os equipamentos.

Modos de operação: PQ, VF e VSG

Durante o episódio, Iberê detalhou três modos fundamentais de funcionamento dos equipamentos PCS:

  • PQ: fornece apenas potência ativa e reativa, sem capacidade de formar rede;
  • VF (Voltage and Frequency): forma rede, mas não pode operar em paralelo com a rede principal;
  • VSG (Virtual Synchronous Generator): simula o comportamento de uma máquina síncrona, permitindo operação mais estável e adaptável em diferentes contextos.

Essas funcionalidades permitem que o sistema se ajuste a diversas situações, desde o isolamento completo até a operação conjunta com o sistema centralizado.

Uma solução para áreas isoladas

Um exemplo emblemático do potencial das microrredes no Brasil foi a instalação do sistema na Ilha dos Lençóis, no Maranhão. Segundo Pereira, o projeto foi pioneiro e demonstrou como diferentes fontes, como solar, geradores a diesel, e até energia eólica, podem ser integradas para garantir fornecimento contínuo em locais sem o à rede central.

No podcast, especialistas relembraram o impacto positivo da microrrede instalada em comunidades. De acordo com os relatos, a mudança provocou uma revolução silenciosa no cotidiano dos moradores. “As pessoas ficaram mais animadas, compraram geladeiras, televisores, ar-condicionado e a rede teve que ser ampliada pouco tempo depois”, destacou Bruno Kikumoto.

O fornecimento de eletricidade confiável impulsiona melhorias no conforto e na qualidade de vida dos moradores, além de aquecer a economia local. A aquisição de eletrodomésticos, antes inviável, tornou-se comum, exigindo inclusive a ampliação da infraestrutura em tempo recorde.

Mas os benefícios não param por aí. As microrredes representam também um avanço ambiental e social. Em localidades afastadas dos grandes centros, o abastecimento energético tradicional costuma depender do uso de geradores a diesel, uma alternativa cara, poluente e logisticamente instável. “Às vezes, falta diesel por um mês ou mais, o gerador quebra e não há especialista para consertar. Ficam sem energia por meses”, relatou Pereira.

Ao substituir os geradores por sistemas híbridos ou totalmente renováveis, as microrredes reduzem a emissão de poluentes e tornam o fornecimento energético mais seguro, confiável e autônomo. Além disso, abrem espaço para a autonomia das comunidades, fortalecendo o desenvolvimento local com uma infraestrutura mais resiliente e sustentável.

Segundo dados mencionados no episódio, há cerca de 700 milhões de pessoas no mundo sem o à energia elétrica. No Brasil, esse número chega a 1 milhão sem nenhum o e entre 3 a 5 milhões com fornecimento precário.

Estima-se que cerca de 60 milhões de brasileiros vivam nessa condição com a rede elétrica à porta, mas sem condições financeiras de pagar a conta. As microrredes, portanto, não são apenas uma solução técnica, elas representam esperança de equidade, desenvolvimento e inclusão para milhares de brasileiros que ainda vivem às margens da modernidade.

Assista ao episódio completo:

Todo o conteúdo do Canal Solar é resguardado pela lei de direitos autorais, e fica expressamente proibida a reprodução parcial ou total deste site em qualquer meio. Caso tenha interesse em colaborar ou reutilizar parte do nosso material, solicitamos que entre em contato através do e-mail: [email protected].

Foto de Caique Amorim
Caique Amorim
Estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Tenho experiência na produção de matérias jornalísticas.

Uma resposta

  1. Novas tecnologias exigem necessariamente um pessoal mais especializado para operar na manutenção e operação desses sistemas, a reportagem não abordou essa temática, se as micro redes são mais necessárias em localidades mais remotas do país onde se pressupõe não haver demanda de pessoal qualificado nessas novas tecnologias para operacionalização e manutenção desses complexos sistemas, o que está sendo feito ou pensado para resolver essa importante temática no caso das instalações de mais sistemas como esse de Lençóis?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Os comentários devem ser respeitosos e contribuir para um debate saudável. Comentários ofensivos poderão ser removidos. As opiniões aqui expressas são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a posição do Canal Solar.

Receba as últimas notícias

Assine nosso boletim informativo semanal

<
<
Canal Solar
Privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.